A Organização Não Governamental Saúde Sem Limites em parceria com a IDS - Institute of Development Studies da Inglaterra e com a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), inicia em junho de 2021 o projeto intitulado “Comunicação Intercultural para uma resposta efetiva à Covid-19 nos territórios indígenas da Amazônia”.
O objetivo principal do trabalho é obter um maior entendimento referente às barreiras que limitam a comunicação efetiva entre os serviços de atenção à saúde indígena governamentais e as comunidades indígenas, as quais nesse contexto de epidemia de COVID-19 são consideradas vulneráveis ao vírus.
O projeto abrangerá também outros objetivos específicos, tais como: proporcionar o acesso à informação confiável de prevenção e tratamento da COVID-19; estabelecer uma relação de confiança e colaboração entre comunidades e profissionais de saúde; debater questões de controle social e monitoramento epidemiológico de base comunitária.
De acordo com o coordenador do projeto, Domingos Barreto, a pesquisa/ação irá abranger 27 comunidades e assentamentos menores do Alto do Rio Negro, sendo 16 no curso do Rio Tiquié e outras 11 às margens desses afluentes. “Apesar de não ser uma região tão extensa, o Médio Tiquié é a área mais populosa da região, onde vivem cerca de 344 famílias que totalizam mais de 2000 pessoas”. Segundo Barreto, que também é liderança indígena do povo Tukano, as comunidades são formadas principalmente pelos grupos Tukano, Desana e Hupd’äh, sendo este último, representado por mais de 40% da população local. Há ainda uma presença significativa dos Yuhupdëh, Tuyuka e Yebamahsã, e em grupos menores, outras etnias como Tariano, Bará, Mirititapuia, Siriano e Piratapuia.
A ação será desenvolvida no decorrer de 30 dias entre os meses de julho e agosto deste ano, e será realizada por uma equipe de pesquisadores indígenas formada pelo coordenador, Domingos Barreto, e mais dois agentes de comunicação intercultural que compreendem quatro das mais de dezoito línguas faladas pelos povos da região.
O trabalho consistirá em pesquisas qualitativas e quantitativas obtidas através de encontros e entrevistas. “Em todas as visitas a campo, realizaremos uma reunião que será previamente agendada com os líderes de cada comunidade. Durante essas rodas de conversa, os participantes listarão em cartolina quais são as características julgadas boas ou ruins por parte das políticas públicas no combate à Covid-19. Também debateremos assuntos de saúde e controle social da população e aproveitaremos para discutir sobre o vírus, salientando a importância da medicina ocidental aliada à indígena, onde o trabalho das equipes de saúde e dos benzedores e pajés se complementem sendo igualmente valorizados e respeitados, dando assim mais segurança à população indígena”, explicou Domingos.
Para que o trabalho seja possível, o grupo adotará a língua portuguesa na comunicação verbal e escrita através de uma linguagem simples e que facilite o entendimento das perguntas. Entretanto, sempre que necessário, as lideranças indígenas, o conselheiro distrital e/ou o agente de saúde farão a tradução juntamente com os agentes de comunicação intercultural do projeto. Todas as entrevistas, após devido consentimento, serão registradas por meio de gravador digital (celular) e posteriormente transcritas em papel.
“A pandemia já tirou a vida de mais de cem indígenas da nossa região. Atualmente, todas as comunidades do Rio Tiquié e seus afluentes estão com Covid-19. Esperamos que ao final desse trabalho tenhamos identificado quais são os fatores que impedem a boa comunicação entre os serviços de atenção à saúde indígena governamentais e as comunidades, e que possamos enfim contribuir positivamente para o sucesso desse diálogo”, finalizou Domingos.
Escrito por Vanessa Berloffa